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AS 'SUPER TAXAS' A 'ARMA' DE TRUMP

Durante a presidência de Donald Trump, os Estados Unidos adoptaram uma abordagem económica marcadamente proteccionista, com a aplicação de tarifas aduaneiras sobre uma ampla variedade de produtos importados. Esta política, centrada no lema "America First", visava proteger a indústria e o emprego norte-americanos, mas teve repercussões profundas tanto a nível global como especificamente na União Europeia, mas também nos E.UA, onde o seu aliado Elon Musk afasta-se das políticas de Trump para fundar um novo partido, onde passa possivelmente a existir uma trilogia 'Republicanos, Democratas e agora o ‘Partido da América'.
Na economia global a imposição de tarifas sobre produtos estratégicos, como o aço, o alumínio e componentes tecnológicos, desencadeou uma série de reacções em cadeia no comércio internacional. Em resposta, várias economias  incluindo a China, o Canadá e a União Europeia  introduziram contra medidas, levando a uma guerra comercial que abalou o equilíbrio económico internacional.
Estas medidas aumentaram os custos de produção, desorganizaram cadeias de abastecimento globais e contribuíram para a desaceleração do crescimento económico em diversos países. O clima de incerteza gerado teve também efeitos negativos sobre os investimentos e a confiança dos mercados…e Portugal não está imune.
A União Europeia foi directamente afectada pelas tarifas impostas por Washington, sobretudo no sector automóvel, aeronáutico e agrícola. As exportações europeias viram-se confrontadas com barreiras acrescidas, resultando em perdas significativas para empresas exportadoras e maior volatilidade nos mercados.
A política de Trump forçou a U.E. a reavaliar a sua estratégia comercial, incentivando-a a procurar novas parcerias comerciais e a reforçar os laços com outras economias, como o Japão, o Mercosul e, mais recentemente, alguns países africanos e do Sudeste Asiático. Entretanto Trump anunciou para este mês de Julho que as tréguas na aplicação das taxas terminou, para agora voltar à sua aplicação em percentagens que dá que pensar no futuro, como já alertou o Banco Central Europeu, enquanto a U.E., parece querer chegar a acordos pontuais com a administração norte-americana.
A estratégia tarifária adoptada pelos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump teve um impacto duradouro na economia global, marcando uma ruptura com o multilateralismo que vinha sendo promovido desde o pós-guerra. Para a União Europeia, representou um desafio, mas também uma oportunidade de afirmação enquanto actor independente e defensor do comércio livre e regulado.
Além disso, a relação transatlântica  tradicionalmente estável  passou por um período de tensão, com impactos diplomáticos e económicos que perdurarão mesmo após o fim da administração Trump.
Para além do aspecto económico Trump tem encontrado barreiras geoestratégicas a nível dos conflitos e das promessas que fez como apaziguador de conflitos. Senão vejamos: A estratégia de “solução imediata” que subestima a complexidade diplomática.
Israel tem pressões internas, Hamas busca garantias firmes, Rússia exige termos que colocam a Ucrânia em desvantagem, e Kiev exige segurança real... uma combinação explosiva.
A táctica de Trump desgasta a confiança dos EUA entre aliados e multiplica o risco de acordos fracassarem por falta de verificação e penalização por violações. Necessidade de garantias estruturadas, que vão além de promessas; sem elas, o risco de fracasso permanece alto em nossa opinião.

Fernando Neves Marques/Director 

QUANDO SE ULTRAPASSAM TODOS OS LIMITES

Por: Luís Mergulhão
 

Devo dizer que nunca escrevi sobre assuntos que não domino minimamente. Não o devo fazer por respeito a quem me lê, mas sobretudo por respeito a mim próprio. Neste quadro, desta vez vou abrir uma excepção porque aquilo que está a acontecer em Gaza ultrapassa tudo o que se poderia imaginar de mais sórdido e desumano. Portanto, perante aquilo que se vai conhecendo, ninguém deverá ficar indiferente, como é o meu caso. Porque não tenho os conhecimentos mínimos necessários, até nem sei bem como vai sair este texto; provavelmente não vai ter nenhuma coesão textual e não vai passar de uma amálgama de frases soltas e sem coerência interna, mas acho que apesar disso vou arriscar escrever algumas ideias, pedindo desculpa pela ousadia de publicar sobre um tema tão importante e tão actual mas que não domino. 
Então vamos lá: o Estado de Israel foi criado em 1948, tendo declarado independência a 14 de maio desse ano e sido admitido nas Nações Unidas em 11 de maio do ano seguinte. Trata-se de um país organizado politicamente como as democracias ocidentais, isto é, com parlamento eleito por sufrágio universal, com um governo e um Presidente. Basicamente, é o mesmo sistema que temos em Portugal. Neste sentido, Winston Churchill disse uma vez que “A democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros”. Ou seja, Israel é um Estado democrático, os seus cidadãos são livres e a sua economia assenta na economia de mercado de modelo capitalista (o pior modelo à excepção de todos os outros, por mais que a extrema-esquerda afirme o contrário!).
A sua localização geográfica é muito problemática em termos políticos, pois nenhum dos seus vizinhos árabes vê com bons olhos o país e apenas dois têm relações diplomáticas com Israel: a Jordânia e o Egipto. Aliás, os acordos entre o Egipto e o Estado judaico custaram a vida ao então Presidente egípcio Anwar Al Sadat, assassinado em 1981 por extremistas islâmicos, que nunca lhe perdoaram ter assinado um acordo de paz com Israel.
O Irão, que não é um país árabe mas sim persa, de maioria xiita (diria mesmo, quase exclusivamente xiita), é o principal adversário de Israel, sobretudo após a revolução de 1979 liderada pelo Ayatollah Khomeini, de raíz teocrática (o sistema de governo é submetido à Religião e, neste caso concreto, ao Corão).
Ora, o objectivo dos países árabes e sobretudo o Irão é aniquilar o Estado de Israel, e isso é público e repetido imensas vezes nos discursos dos líderes regionais (com o iraniano à cabeça), sejam os líderes religiosos (o líder supremo é Ali Khamenei), políticos ou militares. E o Irão tudo tem feito para, um dia, ter condições para atingir esse objectivo principal: desde o enriquecimento de Urânio para produzir armamento nuclear até à criação de grupos extremistas armados no Líbano (que, hoje em dia, é um Estado-fantoche, muito longe do que era no início dos anos 70 do século passado, quando era conhecido pela “Suíça do Oriente”), como o Hezbollah, ou, na faixa de Gaza, o Hamas.
A Síria e o Iraque também jogam neste xadrez regional um papel importante de combate ao Estado israelita, mas esses agora estão envolvidos em lutas internas fratricidas com origens religiosas entre sunitas e xiitas e, por esse motivo, têm a sua economia completamente bloqueada e são palco de influências externas em que a Rússia também joga um papel fundamental naquele tabuleiro geopolítico. Portanto, o perigo que Síria e Iraque representam hoje-em-dia para Israel é menos significativo porque assenta sobretudo em grupos armados que têm uma acção pouco coordenada e estão mais ou menos identificados.
Neste breve caldo de cultura, falta abordar o grupo islamita que domina o Iémen com mão de ferro (os Houtis), xiitas apoiados pelo Irão e cujo objectivo é também eliminar Israel, havendo em todos estes países um denominador comum para além do ódio a Israel: o cunho marcadamente ocidental e, sobretudo, norte-americano, pois identificam o Ocidente como o grande pilar do apoio a Israel e como o obstáculo à expansão da religião muçulmana contra os hereges. Isto é, contra tudo o que não é muçulmano: por exemplo, eu e vossemecê, caro leitor, que professamos outra religião e, nesse sentido, somo catalogados de hereges e, portanto, devemos ser eliminados.
Esta breve resenha histórico-geográfico-religiosa serve para enquadrar aquilo que se passou a 7 de outubro de 2023, dia em que ocorreu o vil ataque a Israel por parte do grupo terrorista Hamas e que se saldou em milhares de mortes e feridos e, também, com quase 250 pessoas feitas reféns. Ou seja, um massacre inexplicável. Como disse, pouco percebo de política externa e quanto à História daquela região também não sou entendido e mais não fiz do que apresentar um pequeno quadro para tentar contextualizar o que se está agora a passar em Gaza (e, colateralmente, no Líbano e no Irão). Corrijam-me, caros leitores, se cometi algum erro neste pequeno esboço. 
Ora, aqui chegados, temos um país que quer viver em paz e que, historicamente, tem sofrido ataques daqueles que não aceitam a sua existência. Como é óbvio, Israel também não é “santinho” e tem perpetrado ataques vis a territórios vizinhos, pelo que a confusão reina na região e não há, do meu ponto de vista, nenhuma abordagem maniqueísta de que de um lado estão os bons e do outro os maus. Há culpas de ambos os lados, embora o essencial seja simples: um país que quer existir e coexistir com os seus vizinhos e inimigos e um conjunto de países que querem a eliminação de Israel e de tudo o que não seja muçulmano, pois esses são hereges e, por isso, como já referi, devem ser eliminados.
Porém, tendo em conta o que se passou naquela manhã de 7 de Outubro de 2023, tem que se aceitar o direito de Israel se defender de ataques futuros e, por isso, de querer limitar a capacidade bélica do Hamas e dos seus aliados, todos apoiados pelo Irão. Daí o recente ataque dos Estados Unidos ao Irão, que procurou diminuir (sem eliminar) a capacidade desse país de enriquecer urânio e, assim, desenvolver um arsenal nuclear, que, mais que dissuadir, iria colocar em risco o equilíbrio geopolítico regional e até mundial.
A questão que se coloca é a dimensão que tomou a retaliação levada a cabo por Israel, pois parece-me a mim que todos os limites da decência estão a ser ultrapassados e que urge pôr termo àquilo que já apresenta contornos de genocídio. Uma coisa é o direito à existência enquanto país, o direito a defender-se e o direito de reagir aos bárbaros ataques, inqualificáveis ataques, de 7 de Outubro de 2023. Outra coisa é querer eliminar um povo indefeso, não olhando às consequências de brutais ataques contra “tudo o que mexe”, alegando que se trata de infraestruturas usadas pelos grupos terroristas  liderados pelo Hamas para atacar o Estado judaico. Não me parece que seja prudente continuar esta estratégia bélica sem fim à vista e que uma postura de “com ferro mata com ferro morre” seja aceitável nos dias que correm.
Por isso, aqui fica o meu desabafo sobre um assunto que deve envergonhar-nos a todos por ter ultrapassado todos os limites; uma acção israelita que começa a ser inqualificável, injusta, imprudente, insensível, imperdoável, insuportável e inimaginável e que põe em causa os alicerces da própria democracia e todo o modo de vida ocidental.

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