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Eleições - Um café, entre políticos

 

Fernando Marques|Director

Agora que já temos um presidente da câmara eleito democraticamente e cujo resultado nos diz que o 'povinho' preferiu a continuidade do que 'um salto no escuro', permitimo-nos tecer algumas consideração sobre o período eleitoral.
Começo por referir que o candidato do PS, ousou em certo momento, referir a minha parcialidade numa partilha de um post do PSD que eu tinha preferências partidárias. Quão enganado está o senhor que me merece todo o respeito mas, não tolero nem admito tais insinuações, até porque conhece ao longo destes anos em que já foi vereador e membro da Assembleia Municipal, qual a linha editorial do Notícias de Arronches - deu sempre as mesmas possibilidades a todos - Macaulay e Thomas Carlyle. 
Agora a 'inteligência' de um candidato partidário não se pode ficar por aqui, mas sim ter 'armas' para combater o seu principal adversário político, usando o mesmo método, retirar para um vídeo do seu partido o melhor das suas intervenções e enviar-nos para publicarmos…ou não! Então aí sim, tinha todo o direito em apontar a parcialidade de critério jornalístico do director desta publicação.
A preocupação maior do candidato seria, reconhecer que no último mandato em que o seu partido na oposição e representando 40% dos eleitores, não apresentou uma única proposta que visasse melhorar algum aspecto na vila de Arronches…a que agora se propunham.
Permito-me no entanto deixar aqui a minha posição sobre estas eleições, entrando no mundo do 'Conta Lá'. Imaginemos de forma metafórica que era fim de tarde e o café do bairro estava quase vazio. Na mesa do canto, como sempre, sentavam-se dois amigos. Tinham feito parte de executivos municipais, estiveram lado a lado na política mas, havia um tema que os separava: a cor partidária.
Transportemo-nos então para os debates desses 'amigos', como num 'Conta Lá', agora tu que depois conto eu. Foi uma pena para quem perdeu esse tempo para assistir. Explico: o líder da coligação PSD/CDS-PP com quatro anos a chefiar o executivo, tinha argumentos (confirmou-se) mais do que suficientes para uma maior 'agressividade', mas não, até foi simpático para com o seu adversário. Podia ter recorrido por exemplo: Olhe que não Professor Carlos (recordam-se de um debate chave, Álvaro Cunhal/Mário Soares), e não o fez, antes pelo contrário disse por vezes, “estou de acordo com o Carlos”. Já o candidato do PS acusou o seu adversário de ter sido ambicioso de mais. Foi confrontado pelo moderador quando este lhe recordou que se estava a contradizer, posto que, por outro lado, afirmava no seu programa que tinha faltado ambição ao seu adversário político. Pobre, muito pobre mas os eleitores sabem quase sempre o que é melhor para si e para a sua terra - sem terem que se submeter a estes debates.
Já agora e só para terminar, parece segundo o que foi a apresentação do PS (Jardim do Fosso), que só houve um Presidente da Câmara Municipal de Arronches e foi Miguel Lagarto. Foi sem dúvida um bom presidente no pós 25 de Abril, onde quase todos os presidentes tiveram um papel importante no saneamento básico, electricidade, caminhos e estradas. No entanto, parece-me incoerente não ser recordado o papel de Gil Romão, um autarca do PS, quer se goste, ou não da pessoa, mas deixou obra feita importante no sector social nesta vila de Arronches.
No mundo do 'Conta Lá’ a estória terminaria assim: Depois do café brindaram, cada um com o seu copo de água, como quem diz: glória ao vencedor... respeito ao vencido.

São Todos CDU

Por: Luís Mergulhão
 

​Após as eleições autárquicas do passado dia 12, a noite eleitoral foi aguardada com grande expectativa por todos (partidos políticos, analistas e jornalistas), pois havia alguns pontos de grande interesse, dos quais destaco:
1) - Desde logo, que força política ganharia os dois principais municípios, uma vez que as diversas sondagens apontavam para empates técnicos, daí ser grande a expectativa, pois a vitória poderia cair para um ou outro lado;
2) - Era interessante saber se o Partido Socialista conseguiria estancar a perda do eleitorado, que o levou a ser apenas a terceira força política nas últimas eleições legislativas;
3) - Em consequência, quem iria assumir a liderança da Associação Nacional de Municípios, até aqui na jurisdição do PS por ser o partido que liderava mais municípios;
4) - Uma grande incógnita com a votação do CHEGA: será que se iria consolidar também a nível autárquico como já o tinha feito nas legislativas?
5) - Por fi, o que iria acontecer à esquerda (CDU) e, sobretudo, à extrema-esquerda (BE, Livre e PAN) após actos eleitorais sucessivos em queda e com a líder do Bloco enredada numa espiral trotskista pouco compreensível em pleno século XXI.
Conforme as horas iam passando e os resultados sendo conhecidos, a verdade é que a noite não defraudou. Em primeiro lugar, o suspense sobre os resultados de Lisboa e Porto foram indiciando vitórias para as coligações encabeçadas pelo PSD, sendo que na capital do Norte tudo parecia menos claro do que em Lisboa, onde relativamente cedo se percebeu que Carlos Moedas iria vencer com uma margem mais folgada do que aquela que tinha obtido em 2021. E isso veio a confirmar-se já no início da madrugada. Também no Porto a vitória acabou por recair para a coligação encabeçada pelo PSD, pelo que os dois concelhos mais importantes do país ficaram a ser governados pelo PSD.
Um aspecto importante destas eleições teve a ver com a presidência da ANMP, e essa ficou nas mãos do PSD, o que já não acontecia há muito tempo, por ter sido o partido que conquistou vitórias em mais municípios. Portanto, o PSD é agora a maior força autárquica do país, e essa é a sua grande conquista. 
No que se refere ao PS, respirou-se de alívio no final da madrugada, pois a sangria de votos que ocorreu nas legislativas de Maio foi estancada e, apesar de o total de municípios do PS ter diminuído em relação a 2021, a verdade é que José Luís Carneiro assegurou uma grande vitória do seu partido por voltar a ser a segunda força política e manter um peso autárquico relevante, tendo até conquistado 5 importantes municípios: Évora à CDU, Viseu ao PSD, Coimbra ao PSD e Bragança também ao PSD e Faro ainda ao PSD. Porém, José Luís Carneiro não conseguiu atingir os dois grandes objectivos políticos a que se tinha proposto: vencer Lisboa e Porto e manter a presidência da ANMP. Falhados esses objectivos, não deixa de ser verdade que o Partido quebrou a dinâmica de perda em que se encontrava, embora comparar resultados eleitorais de legislativas com autárquicas não faça grande sentido, pois se se comparar estas autárquicas com as de 2021 é inequívoca uma significativa queda eleitoral. Porém, o PS ganhou ao estancar a perda e recuperar votos em relação a Maio. No entanto, apesar de apregoar vitória, o PS ficou claramente aquém dos objectivos traçados pelos seus dirigentes.
A leitura que se pode fazer dos resultados do Chega é absolutamente dúbia: por um lado, o partido de André Ventura ganhou, pois passou a governar 3 municípios e antes não tinha nenhum! Deste ponto de vista ganhou. No entanto, o seu líder tinha apontado para valores substancialmente superiores, chegando a falar, em dado momento, para vitória em 30 municípios. Ao ter conseguido apenas 10% do objectivo, a verdade é que ficou muito aquém das expectativas iniciais, embora Ventura se tenha agarrado ao número de eleitos pelo partido, que, de facto, subiu substancialmente. Ou seja, o seu partido veio para ficar. Desenganem-se todos aqueles que pensavam que o Chega seria um epifenómeno como, em tempos, foi o PRD. Pelo contrário, o enraizamento do partido de André Ventura na sociedade portuguesa é uma realidade, o que se constata até na agenda política portuguesa, que tem girado e irá continuar a girar em torno daquilo que são os temas (a maior parte deles fracturantes) da própria agenda do Chega.
Já a CDU não conseguiu alterar a dinâmica de queda que tem vindo a caracterizar os últimos 30 anos da coligação. Dos 19 municípios que tinha à partida, restam-lhe 12, sendo que a perda de Évora e Setúbal, os seus últimos bastiões, se constitui como um dado simbólico bastante relevante, que Paulo Raimundo compensou com vitórias em, por exemplo, Montemor-o-Novo e Sines. Ou seja, em mais um discurso completamente desfasado da realidade, a CDU não consegue encarar de frente a sua própria realidade, que a está a levar ao ocaso! O que é uma pena, pois uma CDU forte faz falta, como Partido de protesto e em função da sua História e do seu recorrente discurso, à sociedade portuguesa.
No que diz respeito aos restantes partidos, realce para o CDS, que também cantou vitória por ter conseguido manter os 6 municípios que já detinha. Ao dizer que o seu Partido obteve resultados extraordinários, o líder do CDS demonstrou as baixas expectativas internas, uma vez que o mínimo dos mínimos que se exigia era aumentar o seu pecúlio. Esta reacção de Nuno Melo faz pressupor o receio que existia da erosão completa do seu partido, daí o discurso de vitória quando os resultados foram conhecidos. E o respirar de alívio.
O Livre cantou vitória … porque sim. E só desse modo se pode compreender o discurso do seu líder, vangloriando-se com o município de Felgueiras, onde fez parte da coligação vencedora, e pouco mais. Esqueceu-se, no entanto, das derrotas, sobretudo em Lisboa e Porto, para as quais contribuiu decisivamente, pois o PS fez-se acompanhar por “más companhias” que delapidaram o capital de confiança nos seus candidatos. O caso de Lisboa, então, é vergonhoso para os partidos da extrema-esquerda, que fizeram com que o PS, apesar de ter escolhido uma péssima candidata (porque da ala mais esquerdista do partido, ainda uma consequência da inqualificável liderança de Pedro Nuno Santos), tenha permitido uma quase maioria absoluta a Carlos Moedas. Ou seja, o que parece é que o PS vale mais sozinho do que acompanhado pela extrema-esquerda, que é, na realidade, uma péssima companhia para uma força política que quer ser governo.
Por fim, Bloco de Esquerda e PAN nem contam para esta equação, pois tenho a sensação que, para o bem do futuro da nossa sociedade, tenha sido mais um passo rumo ao total ostracismo.
No final da noite, lembrei-me dos discursos com que o PCP nos costuma brindar nos rescaldos das noites eleitorais das últimas décadas, em que tem sofrido uma imparável erosão eleitoral, mas que os seus líderes transformam em vitórias que só eles entendem. Por isso, na noite de 12 de Outubro, parece que eram todos CDU, pois todos tiveram uma vitória qualquer para apresentar aos portugueses.

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