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Tribuna do Director
Fernando Marques

Um breve encontro com o General Spinola

Em plena guerra colonial fui o que vulgarmente se designa por ‘um sortudo’, pois cumpri o serviço militar numa repartição do exército, o Departamento de Recrutamento Militar (DRM11) em plena Praça do Bocage em Setúbal, ali mesmo ao lado do Restaurante Reno e da Câmara de Setúbal.

Tive a imensa sorte de ter como comandante o Tenente-coronel Carrilho do Rosário, cuja família tinha em Setúbal uma fábrica de embalagens de cartão. Estabeleceu-se entre nós uma relação de empatia, que um dia me chamou ao seu gabinete para me dizer: Sei que precisas de trabalhar para manter a família, arranja-me uma morada de Setúbal para eu poder permitir que pernoites fora. Assim que tiveres o teu trabalho feito podes ir para o Montijo, o teu ordenança (oTereso rapaz natural de S. Francisco/Alcochete) fica encarregue se for necessária a tua presença, telefonar para o teu trabalho ou para a tua casa e passado pouco tempo estás aqui (tinha na altura da empresa para a qual trabalhava, um Vauxhall Viva 1300).

Essa compreensão ficou-se a dever ao ter conhecido a minha filha que dizia ser muito parecida a uma sua neta.

Nos primeiros meses de 1972 tive subitamente uma forte dor abdominal da qual o meu comandante teve conhecimento. Veio rapidamente à minha secção (5ª-Saúde e Engenharia), onde passava as licenças válidas por 30 dias para ir comprar caramelos a Badajoz ou, as definitivas, necessárias para obter o passaporte e poder emigrarem legalmente. Meteu-me no seu BMW e levou-me para o Hospital de S. Bernardo. No entanto como era militar, teria que ir para o hospital militar através do regimento. Assim foi. O médico militar assim que olhou para mim fez o diagnóstico dizendo: com essa cara amarela só podes estar com infecção. Meteram-me numa ambulância militar (com o conforte habitual) e fiquei no Hospital dos Infectocontagiosos na Boa Hora, em Lisboa.

Para descrever este ambiente, basta dizer que não havia visitas, vivíamos isolados, apenas desfrutando do pátio interior. Na maioria os militares ali internados, vinham da Guiné-Bissau com doenças infecciosas, falecendo ali alguns deles.

Depois de uma mera consulta nunca mais tive qualquer dor. Tínhamos uma sala de refeições, onde existia uma velha televisão que consegui por duas vezes colocar a trabalhar até que se ‘finou’. Era o único entretimento que tínhamos ao serão.

Passado algum tempo fomos informados que, as camas e a enfermaria teriam que estar impecáveis, porque Sª Ex.ª o General Spínola ia visitar o hospital. E assim foi. Quando entrou na enfermaria com todos de pé junto às camas, o General ia fazendo perguntas aos militares.

Quando chegou juntou de mim perguntou-me se tinha vindo da Guiné, ao que respondia de que não e contei o episódio de forma breve. Por detrás do seu monóculo, olhou-me de frente e perguntou-me: Então de onde és natural? Respondi: Saiba Vª Ex.ª meu General que sou alentejano, nascido em Estremoz na Freguesia de Stº André. Pareceu-me na altura que o homem até deu um passo a trás e disse-me: sabes que eu também sou de Estremoz. Homem, bela terra a nossa, então somos conterrâneos.

Perguntou-me se necesitava de alguma coisa e falei-lhe na televisão. Chamou o oficial que o acompanhava e disse-lhe para tomar nota e mandar colocar uma televisão nova na nossa sala de refeições. O que aconteceu...

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Eduardo Costa
Jornalista e Presidente da ANIR


OS IMIGRANTES E OS EMIGRANTES 

Somos um país que olha os outros pela raça? Absolutamente não! Razões históricas e culturais deram-nos essa qualidade. Sempre recebemos, vivemos e deixamos viver e trabalhar em igualdade com todos nós. Porque fomos um país com colónias sul-americanas, africanas e asiáticas. Porque sempre fomos um país que deu ”mundos ao mundo” (Luís de Camões). Porque sempre fomos um país de emigrantes. Porque muitos destes emigrantes sofreram esse estigma nos países para onde foram trabalhar Sobretudo nos anos 60, para fugir à guerra e à degradação da vida de um país sem futuro. Sabendo-se que nos dias de hoje (lamentavelmente) têm sentido também na pele o facto de serem emigrantes. Como apurou recente estudo sobre os portugueses no Luxemburgo, onde são 15 por cento da população.
“[Os imigrantes] têm direito à sua existência e são pessoas como nós”. Afirmação de manifestantes no último fim-de-semana em Lisboa. Outra manifestação de um grupo anti-imigração sinalizava o presidente da câmara Carlos Moedas por “ser casado com uma marroquina”. Não se lembraram de incluir o nosso (ainda) primeiro-ministro António Costa que afirma orgulhar-se da sua origem indiana (seu pai). 
Os imigrantes representam já 7,5 por cento da população. E há em análise mais de cem mil pedidos. E prevê-se que o número continue a crescer. O resultado do relatório anual do Observatório das Migrações é revelador. Os imigrantes têm uma taxa de atividade mais alta do que os portugueses.

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