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Efeméride - 5 de Outubro: Memória de um Começo


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A mudança foi profunda, mas também simbólica: significou o fim de uma monarquia secular e o início de um tempo em que o poder, ao menos em teoria, passava a emanar dos cidadãos. Pura ilusão…

A Revolução de 1910 não foi um gesto isolado. Foi o resultado de anos de descontentamento, de ideias fermentadas nas universidades, pelos intelectuais, nas associações e na imprensa. Os seus protagonistas acreditavam que a República traria educação, progresso e dignidade para todos. E, embora a história tenha mostrado o quanto esses ideais se confrontaram com as dificuldades da prática, a semente do civismo e da liberdade ali foi plantada.

A Primeira República não durou muito — entre crises, divisões e desafios, acabou por sucumbir ao golpe de 1926. Mas deixou marcas profundas: a postura do Estado, a valorização da instrução pública, a afirmação dos direitos individuais e o despertar de uma consciência cívica que nunca mais desapareceu.

Hoje, mais de um século depois, recordar o 5 de Outubro é mais do que celebrar uma data. É reconhecer o esforço de gerações que acreditaram que Portugal podia reinventar-se. É olhar para o passado não com nostalgia, mas com respeito — e com a lucidez de quem sabe que a democracia e a liberdade exigem cuidado constante.

A República, como a própria ideia de Portugal, é um projecto em construção. E a memória de 1910 serve para lembrar que nenhum país se cumpre sem cidadãos atentos, informados e livres.

Não seria correcto não admitir o progresso que o país desde então teve, como igualmente o período do obscurantismo e ser submetido a quase meio século de um regime ditatorial, até que no horizonte chegou uma madrugada de Abril.

O espaço abriu-se sob o poder das armas, em que os cravos a tornaram numa madrugada de referência de uma resolução quase diríamos, sem sangue a tingir os cravos vermelhos.

Igualmente que não pode ficar no baú do esquecimento que, no regime democrático, a evolução tem ficado para além da meta que queríamos cortar: desenvolvimento, bem-estar económico e social, mesmo hoje na U.E., estamos cada vez mais longe do pelotão da frente, como alguém um dia no poder nos prometeu. Antes pelo contrário, continuamos em muitos aspectos na cauda da Europa.

Redacção|Opinião

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