A TRADIÇÃO DA 2ª-FEIRA DE PÁSCOA…A ‘MORRER’ AOS POUCOS

Aquilo que num passado muito recente “no Alentejo, a tradição de Páscoa estava muito ligada à segunda-feira de Páscoa, na qual, de uma maneira geral, os alentejanos iam para o campo desfrutar da beleza primaveril que nos inunda de cores e cheiros, abrindo o apetite para a gastronomia tradicional neste dia: o borrego e o folar”. (1)
Nem os tempos com as restrições da pandemia trouxeram mais entusiasmo para esse costume tão arreigado nos alentejanos. Ou porque aos poucos as gerações mais velhas foram desaparecendo, e com elas a tradição ou, por outro lado, as gerações mais recentes já não são tão ligadas a estas coisas que nos diferenciavam dos restantes portugueses neste período da Páscoa.
Mesmo assim, fomos como era habitual até ao Baldio (imagens), ali onde o leito do Rio Caia se encontra seco, com uma ou outra mancha de água que resiste a esta climatologia que as alterações no modus vivendi nos trouxe.
Por entre caminhos que há uma década estavam repletos de tendas, viaturas e as mesas onde se reuniam as famílias de Arronches e alguns de Degolados, quase estavam desertos. Encontrámos ao longo do percurso dois grupos de Arronches que não desistem desta tradição e os de Degolados preparavam-se para levantar a tenda. Disseram-nos que ontem (domingo) havia mais gente. Até a data mudou, já não é a 2ª-feira.
Ao chegar a Arronches um grupo de Amigos, ocupava os grelhadores junto à Zona Ribeirinha (Ponte do Crato), com o espelho de água aos seus pés. Os miúdos praticavam desporto e os adultos cuidavam da comidinha, porque estava a chegar a hora do almoço…
Os tempos são outros, e muitos aproveitam estes dias de descanso para rumarem até às praias do Algarve ou da Costa Vicentina, que o tempo esteve para banhos…
Recorremos ao site da Diocese de Évora que nos conta que: “Nalgumas localidades, essa tradição de ir para o campo ganhou contornos de Romaria, com um programa organizado em que o sagrado e o profano convivem, sendo momentos de devoção religiosa e de saudável convívio entre familiares e amigos.
Campo Maior fica (ficava) praticamente deserta porque a maioria da população, incluindo famílias inteiras, se mudavam literalmente para as margens do rio Xévora, junto do Santuário de Nossa Senhora da Enxara, a poucos quilómetros da aldeia de Ouguela e de Alburquerque.
A Romaria em honra de Nossa Senhora do Carmo, que acontece na Serra de São Miguel, concelho de Sousel. Segundo a imprensa local, as gentes da vila de Sousel, numa azáfama, preparam de véspera o cabrito assado, o ensopado de borrego, as “costas” e o pão que são feitos no forno de lenha. Na Segunda-feira de Páscoa invadem a Serra de S. Miguel, em busca de uma sombra das oliveiras que a povoam, para estenderem as suas toalhas e fazerem o piquenique”. Tradição que ainda se mantêm.
“Na cidade de Elvas a tradição de ir comer o borrego para o campo é também cumprida, sendo que neste caso, na segunda-feira de Páscoa, os elvenses rumam para a Ajuda, nas margens do Rio Guadiana, onde comem o borrego assado”.(1)
(1)-Arquidiocese de Évora