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A Pastora desapareceu…

Por aqui, Hortas de Baixo, Esperança, a Pastora desapareceu… A Pastora era uma rafeira alentejana, branca e preta, enorme, pesada. Era muito meiga e dada.


O que tinha de peso, tinha de amor e amizade que dava generosamente a quem os quisesse receber. Andava em liberdade por esses montados e não fazia mal a uma mosca. À noite, com os seus latidos, punha os javalis em alerta, para se não aproximarem das culturas e as rapositas em sentido, para que não molestassem os borreguitos.

Comigo e com o meu Liso, outro rafeiro alentejano, todos amigos, calcorreamos centenas de quilómetros, pela serra dos Louções, pelo Carcavão, Água de Raiz, Aranha, até à Várzea Grande. Eu, que venho lá do Norte, e aqui vivo vai para três anos, não tenho dúvidas em afirmar que era a pastora uma das minhas melhores amigas, não de agora, mas de sempre, e que me causa um imenso sofrimento o seu desaparecimento. Provável e infelizmente, alguém a matou.

Custa a acreditar, mas a gente ouve histórias… e até por que ela conhecia bem toda a região, é esta, porventura, a hipótese mais plausível. Não sei como em pleno terceiro milénio, no século XXI, é possível a existência de uma ação tão bárbara e anacrónica como a de matar um animal, por maldade ou por razões fúteis. É tão medieval! E como explicar a uma criança que gosta de um animal, e logo o mais antigo amigo do homem, que existem homens capazes dessa brutalidade?

Serão com certeza covardes pois para o seu objetivo criminoso necessitam de uma arma contra o animal indefeso e desarmado, fazem-no à socapa e porque nunca assumem o seu ato. Eticamente reprovável, moralmente inaceitável, socialmente inconcebível, o ato de matar um animal é também punível judicialmente com pena de prisão (art.º 387.º e ss. do Cód. Penal). Só faltará imputar o crime a quem o praticou, julgá-lo e condená-lo. Mas um dia justiça far-se-á, em nome da morte da Pastora e de muitos outros…



Hortas de Baixo, 22 de fevereiro de 2021,
Atanagildo Lobo|Foto-D.R.

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